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  • Foto do escritorAmanda Ourofino

Fios Naturais: você conhece?


Olá meu nome é Fernanda Vallú e a Amanda me deixou contar aqui um pouco da minha experiência com o tricô e os fios naturais.

Desde o ano passado (2019) resolvi resgatar minha vontade de melhorar no tricô. Aprendi essa técnica quando criança, com minha avó paterna, e confesso que não era minha arte manual preferida. Fazia os pontos torcidos e não tinha muita paciência então acabei deixando de lado enquanto crescia.


Não sei exatamente o início da minha vontade de reaprender o tricô, mas várias pessoas estão ligadas a isso, dentre elas a Iris Alessi , a Vivi Basile, a Lê Yamashita e os queridos Marco e Mari dos Fios da Fazenda, só para citar algumas pessoas.


Ao me reaproximar do tricô acabei me deparando com os fios naturais de uma maneira mais profunda. A partir do momento que eu ia pesquisando e adorando, eu ia descobrindo um mundo enorme de possibilidades. Descobri técnicas, raças de ovelhas, todo o processo do fio (da ovelha até a meada) e resolvi compartilhar com vocês.


Infelizmente no Brasil não temos uma tradição muito grande de usar fios naturais (animal e vegetal). Até usamos bastante os fios de algodão, principalmente no crochê, mas talvez pelo clima, por ser um produto mais caro que o de fibra sintética ou talvez por achar que machuca o animal, temos pouco hábito de usar lã natural. Após várias conversas e pesquisas com profissionais e médicos veterinários, hoje tenho a certeza de que a tosquia (aqui vou enfatizar a tosquia de ovinos) não machuca o animal e é benéfica quando feita de maneira correta e sustentável.


A título de curiosidade podemos dividir a fibra em três categorias: animal, vegetal e sintética. Aqui eu irei focar nas duas primeiras, não vamos falar de fios sintéticos hoje.


 

Fibra animal


Alpaca – (origem: lã de alpaca) fino, macio, brilhante, muito isolante, não elástica, não alérgica, pouca ou nenhuma lanolina.


Angorá – (origem: coelho angorá) difuso, macio, brilhante, altivo, isolante, carece de lanolina.


Cashmere (caxemira) – (origem: cabra cashmere) fino, macio, muito isolante, menos duráveis ​​do que a lã, difícil de feltrar.


Llama ou Lhama – (origem: lã de lhama) mais grosseira do que de alpaca, mas ainda é muito macio, muito isolante, durável, mais leve do que a lã, não alérgica, pouco ou nenhuma lanolina.


Lã – (origem: lã de ovelha) pode ser lisa, resiliente, isolante, forte, durável, contém lanolina, absorve água, mas apenas sente molhado depois de absorver 34% do seu peso original.


Leite – (origem: proteína do leite de vaca, a caseína) leve, macio, confortável, pode ser tingido facilmente. Mantém o toque suave e a cor após várias lavagens. É de fácil cuidado, resistente a fungos, boa absorção e condução de umidade. Parece que 45,35 kg de leite desnatado produzem 1,36 kg de fibra de leite, o que transforma sua produção em larga escala pouco sustentável.


Mohair – (origem: cabra angorá) difusa, isolante, menos resistente do que a lã.


Qiviut – (origem: boi almiscarado – muskox) leve, mais suave do que a caxemira, muito isolante, durável.


Seda – (origem: casulos de vermes da seda) fina, macia, lisa, brilhante, má elasticidade, isolante, forte.



* A lanolina é um produto natural obtido a partir da cera de lã bruta gerada pelos beneficiadores têxteis como um sub produto do processo. Durante o beneficiamento, a lã é lavada com uma mistura de sabões e detergentes gerando uma mistura de água, sabões e vários tipos de impurezas impregnadas. Normalmente, pode-se obter entre 10 e 15% de gordura de lã neste tipo de processo. A lanolina é, então, obtida através de um sofisticado processo de refinação de cera da lã bruta. Além do aspecto específico de transformação da cera de lã bruta em lanolina, diz-se que é uma ação ecologicamente correta, supostamente não causando danos aos animais e que evita que este produto seja enviado aos emissários, poluindo o meio ambiente.


 


Fibra vegetal


Algodão – (origem: casulo de algodão) macio, durável, absorvente, não elástica, sem brilho (embora quando mercerizado é brilhante), muitas vezes lavável à máquina, ótimo para malhas de verão.


Bambu – (origem: talos de bambu) macio, durável, antibacteriana, altamente absorvente, não elástica, brilhante, muitas vezes lavável a máquina, ótimo para malhas de verão.


Cânhamo – (origem: camadas exteriores da planta cânhamo) forte, durável, isolante, absorvente, respirável, não-resiliente, frequentemente lavável à máquina, para grandes malhas de verão.


Linho – (origem: caule da planta do linho) forte, resistente, durável, respirável, pesado, não elástica, muitas vezes lavável máquina, ótimo para malhas de verão.


Soja – A fibra de fio de soja provém dos subprodutos da indústria de tofu e soja. As sobras de soja utilizáveis são chamadas okara, que estão na forma líquida. Por meio de um processo chamado fiação úmida, as proteínas da soja são extraídas do okara e secas. As proteínas secas são então fiadas em fios, sozinha ou com outras fibras como lã ou algodão. A operação é ecológica e deixa pouco ou nenhum desperdício.


 

Dito isso, conheço três empresas brasileiras que trabalham com maestria a produção e preparação da lã e que sou uma grande fã. E se você conhecer outras por favor nos conte nos comentários, vamos adorar conhecer mais empresas que trabalham com lã natural.



De São Pedro do Sul para o mundo, essa empresa familiar conquistou ao longo de 10 anos um grande conhecimento e técnicas sobre todo o processo da lã. Com um trabalho totalmente artesanal desde a criação do próprio rebanho (raças corriedale e crioula) até o tingimento. Com o crescimento da marca, passaram a trabalhar com fios mais finos e sofisticados, como a lã merino, conquistando de vez nossos corações (sou fã de carteirinha).


O Chá com Novelos fez um episódio do podcast super especial com o Marco e a Mari. Vale super a pena conhecer a fundo sobre as lãs, ovelhas e como cuidar da sua peça feita de lã. Para escutar o episódio e todos os outros, basta clicar aqui ou dar play aí embaixo:



“A Aurora nasceu do amor, do afeto e da saudade” ao me deparar com a história da Aurora senti uma forte ligação. Como muitas, a história do artesanato está intimamente ligada a herança familiar e cultural, transmita de avós para as netas. E assim a estilista Érica Arrué impulsionada pelo tricô deixado pela metade por sua avó e preocupada com os danos ambientais causados pela indústria da moda resolveu valorizar o feito à mão.

Um projeto de mulheres para mulheres, principalmente, assim consigo ver a Aurora. Além da preocupação não somente do fio, mas com tudo o que o permeia, indo do pequeno produtor rural até a pessoa que compra seus produtos.




Juliana Muller descobriu que a lã era simplesmente jogada fora após a tosquia por grande parte dos criados de ovelhas em Campos do Jordão. Ela decidiu então aproveitar esse material transformando num projeto de mulheres para todo uma comunidade e assim gerando benefícios ambientais, sociais e financeiros. Tendo como objetivo principal “reconhecer que a lã de ovelha, matéria-prima que era desprezada em nossa região, é um bem econômico, de valor social, cultural e ambiental, beneficiando e transformando-a em objetos decorativos de qualidade, gerando trabalho, renda e educação para a sustentabilidade, além de resgatar o patrimônio cultural dos modos tradicionais de produção.

 

Recomendo muito conhecer e testar os fios naturais. Para quem é vegano ou se preocupa com sustentabilidade, há pequenas empresas como essas que mostramos que buscam produzir a lã de maneira sustentável e cuidando (ou verificando quem cuida) dos animais. Também é possível encontrar empresas que produzem o algodão organicamente e de maneira sustentável, assim como as outras fibras naturais. Se você tiver empresas para indicar, por favor, não deixe de deixar nos comentários.


Vale a pena ler o manifesto da lã por Clara Beauty clicando aqui.


Obrigada a todos que chegaram até aqui, esse texto não teve nenhum tipo de patrocínio, foi escrito de coração.


Até a próxima,

Fê.

 

Internacionalista de formação, artesã de coração, Fernanda Vallu é casada, mãe de dois meninos e vários bichinhos (cachorro, hamster, jabuti, coelho, calopsita e periquito). É apaixonada por artesanato desde pequena, quando sua avó paterna ensinou os primeiros pontos de crochê e tricô. Sempre buscou saber sobre tudo e após a maternidade decidiu seguir de vez esse caminho. Em 2014 criou seu ateliê e em 2018 começou a dar aulas e não parou mais de aprender.



 

Espero que vocês tenham gostado! Eu amei ter essa convidada maravilhosa nos trazendo tantas informações incríveis!


Respire, não pire e crochete!

Beijos,


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