Você já viu no Pinterest aquelas almofadas lindas com um ponto super diferente ou já ouviu falar em Crochê Tunisiano ou Afegão, e se perguntou o que é isso?
O surgimento do Crochê Tunisiano ou Crochê Afegão é meio incerto. Ninguém sabe exatamente onde começou a ser feito – apesar do nome, não temos certeza se originou-se na Tunísia. Na minha pesquisa, encontrei uma teoria que diz que foi uma técnica criada por marinheiros e pastores para criar roupas quentes de uma maneira simples – provavelmente mais simples do que com tricô ou tear.
Mas parece ser mais provável que tenha evoluído do hooked knitting (tricô “enganchado”), uma técnica que mistura tricô e crochê, utilizando duas agulhas longas e com ganchos, muito popular na África e na Ásia Central, incluindo a Tunísia e o Afeganistão. Mesmo assim, não se tem registro de tecidos crochetados dessa maneira antes dos anos 1920 na Ásia Central, Oriente Médio ou Norte da África. Tem-se alguns registros em publicações do século XIX na Europa.
Com uma história tão nebulosa, não é de se estranhar que essa técnica tenha tantos nomes diferentes, além do Crochê Tunisiano e Afegão. Parece que os franceses foram os primeiros a incluir “Tunisiano” no nome, mas eles também chamavam essa técnica de Tricot crochet. Outros nomes que você pode encontrar: shepherd’s knitting, trabalho alemão, trabalho russo, ponto tolo ou idiota (fool’s or idiot’s stitch – super encorajador né?), crochê tricô e ponto estrada de ferro (railway stitch).
Esse último nome parece que vem das mulheres trabalhadoras que crochetavam enquanto esperavam pelo seus trens para irem trabalhar nas fábricas e moinhos na Inglaterra do século XIX, mas eu pessoalmente acho que pode vir também do desenho que o ponto tunisiano simples (Tunisian Simple Stitch) ou ponto palito forma. Você não acha?
As editoras do século XIX, na Europa, com a explosão editorial da época e a crescente popularidade dos fios e novelos, começaram a publicar livros e periódicos sobre trabalhos manuais incluindo receitas e passo a passos. É nessas publicações que encontram-se as primeiras referências ao Crochê Tunisiano.
Um dos primeiros registros está na revista inglesa de 1858 Belle Assemble. Nela temos uma capa feita com um novo ponto chamado Princess Frederick William stitch.
Ele foi apresentado como um novo ponto, divertido e fácil de fazer. A designer da capa usou um pseudônimo de Aiguilette. O mesmo ponto foi mostrado em 1860 na revista Ladies Home Companion, de novo por essa designer.
Nessa revista, incluíram instruções para fazer a sua própria agulha, o que demonstra quão nova era a técnica naquela época – e na Europa (já que não havia agulha pronta para comprar).
Uma cópia da revista Needlecraft de 1907 também explica um pouco sobre a técnica:
“This useful work in its simple form is also known as tricot, tricote, idiot, fool or dolt stitch, and is greatly employed for scarves, sofa rugs and other articles that require a firm, close stitch. For light and dainty articles, it is quite unsuitable. In Germany and France, however, many varieties of the stitch are worked, some being close and others light and open so that they may be employed for every purpose, from couvre-pieds waistcoats and golf blouses to baby’s garments and shawls.”
(Tradução livre: Este útil trabalho em sua forma simples também é conhecido como tricot, tricote, ponto idiota, tolo ou pateta, e é muito utilizado para lenços, mantas de sofá e outros artigos que exigem um ponto firme e fechado. Para artigos leves e delicados, é bastante inadequado. Na Alemanha e na França, no entanto, muitas variedades do ponto são trabalhadas, sendo algumas delas fechadas e outras leves e abertas, para que possam ser usadas para todos os fins, desde coletes e blusas de golfe até roupas e xales de bebê).
O Crochê Tunisiano foi razoavelmente popular até os anos 1920 no Ocidente, particularmente na Noruega – onde era chamado de hakking. Mas, com a evolução do século XX, o papel dos trabalhos manuais na vida das mulheres mudou e os trabalhos com Crochê Tunisiano sumiram.
Depois disso, nos anos 1970, a técnica teve um curto revival, principalmente nos Estados Unidos. Mesmo assim, parece que a maioria dos trabalhos não utilizavam a grande variedade de texturas e pontos disponíveis nessa técnica, ficando restritos ao Ponto Tunisiano Simples (ou ponto palito).
Assim, ao contrário do tricô ou do crochê tradicional, a popularidade do Crochê Tunisiano diminuiu com o tempo e nunca recuperou seu glamour, como no século XIX. Mas agora, com tantos materiais disponíveis e a maravilhosidade da internet, podemos mudar isso, não é mesmo?
Topa fazer o Crochê Tunisiano bombar de novo, comigo?
Essa técnica, como no crochê, usa apenas uma agulha. Mas para trabalhos maiores, precisamos de uma agulha maior que a agulha tradicional de crochê, seja ela do tamanho das agulhas de tricô, seja com cabos (que permitem tamanhos maiores ainda). Isso porque precisamos acomodar as alcinhas, assim como no tricô.
Eu comecei usando as agulhas do Crochê Moderno, que até hoje são minhas preferidas para trabalhos com lãs grossas e com fio de malha. Se for um trabalho pequeno, é possível usar as agulhas comuns ou aquelas maiores de bambu, como as da Mari (do Ateliê Pra Gente Miúda).
Temos, ainda, as agulhas com cabos em fio de plástico, parecidas com as agulhas circulares de tricô. Gosto dessas para trabalhos em lãs ou fio de algodão, mas que são mais finos que os fios de malha, e para fazer mantas ou trabalhos maiores com esses fios. Várias marcas oferecem esse modelo: KnitPro, Addi, Clover, Tulip e as minhas, que são da Denise Interchangeable Knit & Crochet.
No crochê tunisiano nunca viramos o trabalho, sempre trabalhamos com a frente do trabalho, nunca com o avesso da peça. É um trabalho que cria uma malha bem densa, mais densa que o crochê e mais ainda que o tricô.
A peça fica encorpada, parecendo que tem duas camadas, sabe? Com uma textura bem diferente do crochê e do tricô, apesar de termos dois pontos que são bem parecidos visualmente ao tricô (mas tecemos de maneira diferente, claro).
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Para ter uma malha menos densa, o ideal é usar agulhas maiores do que o rótulo do novelo indica, pelo menos dois números – ou até mais.
Escolher uma agulha maior dois ou até três números do que indicado no rótulo do fio também ajuda a enrolar menos a peça, pois no Tunisiano o trabalho enrola bastante, salvo alguns pontos específicos que enrolam menos. Sendo assim, é bom tecer a peça com menos tensão e blocar o trabalho ao finalizá-lo.
Se você não sabe o que é “blocar o trabalho”, aqui eu explico tudo sobre esse assunto.
Aproveite e acesse os tutoriais aqui do blog. Basta clicar aqui!
Respire, não pire e crochete!
Beijos,
Referências bibliográficas:
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